A biografia que passaremos a estudar, sobre alguns destes Pais da Igreja, é um resumo daquilo que realmente viveram em suas épocas. Que possamos tomar o exemplo de fé, amor pelas almas e ousadia destes homens; e saber que na época em que vivemos hoje, ainda podemos ser “Heróis da Fé”. Possamos através da graça de Deus, pagar o preço que nos é proposto, a fim de manter a Igreja edificada, a defesa do Evangelho e a luta contra todo espírito que queira corromper as doutrinas da infalível Palavra de Deus. Que o Senhor vos abençoe!
Lutero não foi, como alguns pensam, o fundador de uma nova religião, o protestantismo. A Reforma Protestante, da qual foi impulsionador, foi além do movimento da libertação nacional, que resultou na formação de igrejas nacionais entre os anos de1517 a 1563. Foi, sem dúvida, o grande precursor da liberdade religiosa atual e quem mais contribuiu para um retorno do cristianismo às Escrituras. Para não admitir suas falhas, são diversas as acusações da Igreja Católica a Lutero, de louco a rebelde orgulhoso.
Enquanto o cristianismo romano se paganizava, muitas pessoas às quais o nome 'cristão' fora negado, lutavam para que a Igreja retornasse aos princípios do Novo Testamento. Entretanto, ela já havia se institucionalizado, e esses reformadores passaram a ser acusados de hereges. Geralmente eram expulsos de suas congregações e perseguidos, pagando, muitas vezes com a vida, pelo zelo cristão.
Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, Alemanha, onde seu pai, de origem camponesa, trabalhava em minas. A sua infância não foi feliz. Seus pais eram extremamente severos. Durante toda a sua vida foi prisioneiro de períodos de depressão e angústia profunda, quando aspirava pela salvação de sua alma.
Em 1505, antes de completar 22 anos, ingressou - contra a vontade de seu pai, que sonhava com a carreira de advogado para ele - no mosteiro Agostinho de Erfurt. Dos motivos que o levaram a tal passo, esse acontecimento foi decisivo: duas semanas antes, quando sobremaneira o temor da morte e do inferno o afligia, prometeu a santa Ana caso se salvasse se tornaria um monge. Portanto, a razão principal, foi o seu interesse pela própria salvação.
Embora tentasse ser um monge perfeito - repentinamente castigava seu corpo, a conselho de seu superior - tinha consciência de sua pecaminosidade e cada vez, por isso, tratava de sobrepor-se a ela. Porém, quanto mais lutava contra esse sentimento, mais se apercebia de que o pecado era muito mais poderoso do que ele.
Frente a essa situação desesperadora, o seu conselheiro espiritual recomendou que lesse as obras dos místicos, mas não adiantou; então, foi proposto que se preparasse para dirigir cursos sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg.
A grande descoberta
Essa resposta, no entanto, não veio facilmente. Não ocorreu de um dia para outro. A grande descoberta foi precedida por uma grande luta e uma amarga angústia. O texto básico é Romanos 1.17, no qual é dito que o Evangelho é a revelação da justiça de Deus, e era precisamente essa justiça que Lutero não podia tolerar e dizia que odiava a frase 'justiça de Deus'. Nela, esteve meditando dia e noite para compreender a relação entre as duas partes do versículo que diz 'a justiça de Deus se revela no evangelho', e conclui dizendo que 'o justo viverá pela fé'.
A resposta foi surpreendente. Lutero concluiu que a justiça de Deus, em Romanos 1.17. não se refere ao fato de que Deus castigue os pecadores, mas ao fato de que a justiça do justo não é obra sua, mas dom de Deus. Portanto, a justiça de Deus só tem quem vive pela fé: não porque seja em si mesmo justo ou porque Deus lhe dê esse dom, mas por causa da misericórdia de Deus que, gratuitamente, justifica o pecador desde que este creia.
A partir dessa descoberta, a justiça de Deus não passou mais a ser odiada; agora, ela tornou-se em uma frase doce para sua vida. Em conseqüência as Escrituras passaram a ter um novo sentido para ele. Inconformado com a Igreja Católica, Lutero compôs algumas teses, que deveriam servir como base para um debate acadêmico.
As teses foram escritas acaloradamente com sentimento de indignação profunda, mas com todo o respaldo Bíblico. E além do mais. ao atacar a venda de indulgências, colocava em perigo os projetos dos exploradores, dentre eles, a ganância do papa Leão X em arrecadar dinheiro suficiente para terminar a construção da Basílica de São Pedro. Os impressos despertaram o povo e produziram um sentimento de patriotismo, o que facilitou a Reforma na Alemanha.
Não precisamos falar aqui sobre a importância de Lutero como profeta, no sentido de abrir um novo passo para a igreja no plano de Deus, restaurando a firme base de justificação pela fé, sem apoio algum em obras humanas. É bem conhecido também que tinha um 'temperamento profético', e que costumava expor os pecados e erros de pessoas, sistemas eclesiásticos e raças em termos nem um pouco diplomáticos ou conciliadores! Sabemos que nem todos os seus ataques eram uma representação fiel da justa ira de Deus, como quando falava contra anabatistas e judeus, e até os perseguia.
'A voz é do ministro, mas meu Deus está falando a palavra que ele prega.'
'O sermão faz parte de uma guerra cósmica pelas vidas das pessoas. É uma espécie de acontecimento apocalíptico, que coloca a vida da pessoa em movimento - ou na direção do céu ou do inferno. Ninguém pode ouvir em fria apatia.'
'Quando elaboro um sermão, elaboro uma antítese. Deus e Satanás estão lutando nas mentes. É a luta entre o Deus que os homens buscam através de razão e especulação humana, e o Deus que se revela na Palavra por meio de Jesus. A razão separada de Deus é a meretriz do diabo.'
'O conteúdo da pregação não deve ser de sutilezas filosóficas, mas a promessa que gera confiança.'
'A pregação do evangelho nada mais é do que Cristo chegando a nós, ou de nós sendo levados a ele.' 'Nada além de Cristo deve ser pregado.'
'A realidade do Deus a quem nos devemos curvar em fé é realmente muito simples.'
'Ninguém deve pensar que é tão sábio ou tão espiritual que pode desprezar ou perder o mais insignificante sermão, pois não sabe qual a hora em que Deus fará sua obra nele.'
'Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando que são inimigos da cruz de Cristo' (Fp 3.18).
Se você perguntar: 'De onde tal disposição contrária?', responderei que procede naturalmente da justiça humana. Pois todo indivíduo que professa justiça humana, e não conhece nada de Cristo, mantém a eficácia de suas próprias obras diante de Deus. Ele confia nisto e se satisfaz assim, presumindo desta forma apresentar uma aparência louvável aos olhos de Deus e tornar-se especialmente aceitável a ele. Deixando de ser soberbo e arrogante para com Deus, passa a rejeitar aqueles que não são justos segundo a lei, conforme ilustrado no exemplo do fariseu (Lc 18.11,12). Entretanto, maior se torna sua aversão e mais amarga sua ira em relação à pregação que ousa censurar a justiça que vem pela lei e que afirma sua inutilidade para obter a graça de Deus e a vida eterna.
Assim sempre age a natureza humana. O mundo não pode se comportar de outra forma, quando vem a declaração do céu, dizendo: 'É verdade, você é um homem santo, um grande e erudito jurista, um regente de caráter, um príncipe digno, um cidadão honrado, e assim por diante - mas com toda sua autoridade e seu caráter reto você vai para o inferno; cada um de seus atos é ofensivo e condenado aos olhos de Deus. Se quiser ser salvo, precisa ser uma pessoa totalmente diferente; sua mente e seu coração precisam ser transformados.' Anuncie isso e o fogo se acende... pois os justos por obras próprias consideram uma idéia intolerável que vidas tão exemplares, tão dedicadas a vocações louváveis, sejam publicamente censuradas e condenadas pela pregação desagradável de um pequeno número de indivíduos insignificantes...Trecho do Sermão: 'Profecia da Destruição de Jerusalém' Lutero aqui aplica a profecia sobre a destruição de Jerusalém à situação da Alemanha, que estava com uma revolta de camponeses, onde cem mil pessoas já haviam morrido.
Há dois métodos de pregação contra aqueles que desprezam a Palavra de Deus. O primeiro é através de ameaças, como quando Cristo falou com as cidades que não se arrependeram: 'Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!...' (Mt 11.21-24). Com isto, ele desejou chocá-las e trazê-las à realidade, para que não lançassem aos ventos as palavras que Deus lhes enviou.
Primeiro, enquanto aproximava-se da cidade, o povo ia adiante e atrás dele com cânticos de grande alegria, dizendo: 'Hosana ao Filho de Davi!' Estendiam suas vestes pelo caminho e cortavam galhos das árvores, espalhando-os diante dele. Era uma cena muito gloriosa. Porém, no meio de todo este júbilo, ele começa a chorar. Deixou o mundo todo celebrar com regozijo, enquanto ele próprio se encurvava com pesar e tristeza. Contemplando a cidade, ele disse: 'Ah! Se conheceras por ti mesma ainda hoje o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos' (Lc 19.41). (...)
É como se dissesse à Jerusalém: 'Aqui está, solidamente edificada, com homens fortes e valorosos no seu interior, que, sentindo-se seguros e contentes, pensam que não há perigo. Entretanto, em mais quarenta anos será totalmente destruída'. Isto ele disse claramente em Lucas 19.43,44: 'Teus inimigos te cercarão de trincheiras... e te arrasarão... Não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação'.
Assim os judeus foram espalhados pelo mundo inteiro e desprezados como o povo mais vil sobre a face da terra... sem uma cidade ou país próprios... Desta forma, Deus vingou a morte de Cristo e de todos seus profetas, porque não reconheceram o dia da sua visitação.
Deveríamos perceber que Deus está permitindo o nosso endurecimento. (...) Receio que o tempo virá quando a Alemanha será um montão de ruínas. Os ventos do mal já começaram a trazer destruição através da nossa guerra de camponeses. Já perdemos muitas pessoas. Quase cem mil homens, só entre a Páscoa e o Pentecostes! É uma obra terrível que Deus tem feito, e temo que não parará aí. Este foi apenas um prenúncio, uma advertência, para nos assustar a fim de que pudéssemos nos preparar para a angústia vindoura. (...)